domingo, 14 de maio de 2017

Abuso Sexual na Infância: Orquídea!


Foto: pixabay
Sejam todos bem-vindos, esta é a nossa segunda entrevista sobre alguém que passou pelo ASI e vem buscando a superação dia após dia.

Sua capacidade de ajudar as pessoas ao seu redor se revela única e cheia de amor! Ela inspira confiança e amor ao próximo. Nunca coloca impedimentos para socorrer quem precisa. Mulher forte e que que já trilhou um caminho muito complexo, mas que suas atitudes de mulher honesta a faz superar tudo o que precisa para alcançar seus próprios objetivos sem esquecer das pessoas ao seu redor! E, como vocês já sabem, o nome é um segredo, mas apelidamos ela de Orquídea.

Bem, as perguntas são semelhantes a da entrevista anterior, nossa intenção é mostrar como cada pessoa é única em suas experiências, vivências, escolhas e etc.
Bem, vamos à entrevista...

SM – Seja bem-vinda em nosso blog e agradecemos muito a sua participação e disponibilidade em nos ajudar nesta jornada de superação.
R- Obrigada!!

SM - Quantos anos você tem?
R- 38 Anos

SM – Como foi a sua infância? O que lembra até os sete anos, aproximadamente?
R- Eu fui criada pelos meus avós maternos, desde que eu tinha 1 ano e 7 meses.  Minha mãe faleceu com 21 anos de idade, depois de vários abortos. E isto, fez com que a saúde dela ficasse debilitada.

Eu sempre sofri muito por não ter tido carinho de mãe. A minha família, nesta época, sempre me referia como a filha da XXXX (nome da minha mãe) como se eu não tivesse identidade.
Lembro que eu era uma menina carente, assustada e deprimida. Todas as noites eu chorava perguntando a Deus porque Ele fez isso comigo... ter levado a minha mãe e me deixado sozinha! A minha família era conservadora, mas convivíamos com o alcoolismo e, por debaixo dos panos, se escondia a pedofilia, que acontecia antes mesmo de eu nascer.

SM – A pessoa que te abusou, era da família? Que tipo de ligação ela tinha com a sua família?
R- A pessoa que me abusou é da minha família, um tio materno, uma pessoa acima de qualquer suspeita.

SM – Qual era o seu maior medo em relação ao abuso sofrido?
R- Na época, era acontecer outra vez, embora eu só tinha 5 anos de idade e não tinha ciência do que era, eu sentia que era algo muito ruim.

SM – Qual foi o pior momento sofrido no abuso?
R- Eu lembro nitidamente... eu estava assistindo televisão com a minha avó e esse tio. Depois de algum tempo, minha avó foi tomar banho, então ele me chamou falando que ia brincar comigo, me colocou de bruços, tirou meu short, começou a se masturbar em cima de mim e teve um momento que ele forçou e eu reagi na hora... quis levantar e olhar para trás, ele sempre com uma voz calma falando desculpa não olha para trás, titio não vai fazer mais... continue olhando a televisão que depois vou te dar um doce. Enquanto ele colocava a mão dele em minhas partes íntimas.  Eu quis levantar porque senti que algo estava errado, mas não sabia o que estava acontecendo, eu só tinha 5 anos e ninguém nunca falou nada disso comigo. Afinal ele era meu tio... o que de ruim ele ia fazer comigo que era sobrinha?

Quando a minha avó chegou e viu, começou a gritar com ele e depois quase me bateu, perguntando porque eu havia deixado? Fiquei pensando: “Deixei o que”?

Eu não sabia o que havia acontecendo, mas ela ainda me ameaçou dizendo que se eu contasse para alguém ia queimar minha língua. Seu medo era a possibilidade de acontecer uma tragédia na família. Só que a tragédia já estava acontecendo na minha vida!

Perdoei o meu tio, mais os traumas psicológicos me perseguem. E só descobri o que tinha acontecido comigo naquela época na escola já com os meus 8 anos, aonde você aprende de tudo.

Foto: pixabay

SM – Naquele período dos abusos, quem foi a pessoa que você mais desejou que te protegesse?
R- Minha Avó, ela tentou me proteger me vigiando tudo o que eu fazia, como se a culpa fosse minha.

SM – Acredita que, devido aos abusos sofridos, você tenha tido uma fase adulta confusa? Acredita que, sem os abusos terem acontecido, sua vida teria sido melhor?
R- Acredito, em muitas áreas da minha vida fui afetada. Quando tive meus filhos, sempre estava com muito medo de algo acontecer. Até hoje, com a minha filha mais nova (com 12 anos) ... quando ela vai para casa do pai, tenho pesadelos! Fico muito aflita e com medo de algo acontecer!  Ee ela demora a chegar em casa depois da escola, fico inquieta.

Eu sempre conversei com os meus filhos sobre abuso sexual desde a mais tenra idade deles, obviamente na linguagem deles. Na minha vida conjugal, há momentos que surgem as imagens do ASI como se fosse um flash!

SM – Se você voltasse a infância e pudesse mudar algo, o que mudaria?
R- Nossa não tem como escrever isso sem as lágrimas não rolarem pelo meu rosto (choro). Mudaria a possibilidade de ter uma família que prestasse atenção em mim, pois eu era órfã de mãe e pai, tudo que precisava era de amor e proteção.... Proteção... era o que eu precisava (choro).

SM – O que você gostaria de falar para as mães que estão lendo esta sua entrevista?
R- Mães prestem atenção nos seus filhos, sejam meninas ou meninos, porque eu só contei a minha história, mas acredite aconteceu com outros primos e primas, infelizmente, o silêncio deu força para ele (meu tio) continuar. Mantenham um diálogo aberto. Preparem seus filhos para o mundo, ensinem que o silêncio faz mal. Hoje, sou conselheira Tutelar e, infelizmente, tenho que dizer que o ASI é mais comum do que se pode imaginar. Para nossa tristeza, 95% dos casos os abusadores são: os pais, padrastos e familiares mais próximos.

Se você sentir algo errado, mesmo que seja a menor da intuição ou gestos suspeitos, redobre sua atenção com suas crianças. É nosso dever proteger nossos filhos e manter um diálogo aberto e de confiança.

SM - O que você gostaria de falar que ainda não perguntamos?
R- Porque o seu tio fez isso com você?

Resposta: Só depois que cresci, descobri que o meu avô materno, já tinha tentando abusar de uma tia e em seguida, minha mãe foi estuprada pelo irmão. Já esse tio que abusou de mim tem ódio do pai até os dias de hoje, mesmo ele já sendo falecido.  Acreditamos que ele foi abusado pelo pai. Acredito que ele repetiu o que fizeram com ele... essa violência e crueldade com um ser indefeso... não o estou inocentando dos erros cometidos.


SM – Agradecemos muito por você ter nos ajudado através desta entrevista. Que a sua vida seja mais e mais de superação.

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Se você quiser colaborar, escreva sua experiência de superação e envie para e-mail raigodoy@hotmail.com

Até a próxima postagem!

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Rai Godoy - Especialista em Sexualidade, Inteligência Emocional e Analista de Perfil Comportamental - Life Coach - Conselheira Profissional - Membro da ABRASEX, SBRASH e SLAC.

 
 

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