terça-feira, 31 de maio de 2016

Abuso Sexual Infantil: A História de Vitória!

Quando olhamos para ela, vemos uma moça de pouco mais de 40 anos e com uma história muito complexa. Não sei como pode haver tanta beleza em uma pessoa que já foi tão molestada pela vida!

Seu sorriso é encantador e cheia de talentos. Apesar de não morar no Rio de Janeiro como, talvez, alguns leitores possam estar pensando, ela parece uma daquelas cariocas arrebatadoras!

Sua história parece abranger e conter todas as histórias de vida de abuso sexual relatadas anteriormente neste blog e por isto, deixamos para contar no finalzinho deste mês de Maio.

Convido vocês a conhecerem a história de Vitória! (Não, seu nome não é Vitória, é apenas um codinome que condiz com seu próprio nome e história).

Vamos entender sua história...

SM- Olá Vitória, seja bem vinda e saiba que nosso coração se enche de gratidão por ter você aqui. E quero logo perguntar: Qual é a sensação que você tem em estar falando conosco?

Vitória- A sensação que tenho é de estar sempre querendo ajudar. Que minha história traga um pouco de sentido à vida de quem já sofreu assim como eu. Acredito que, assim como eu tenho acompanhado outras histórias e isto tem me ajudado, através da minha história, outras pessoas serão confortadas. Meu objetivo é ajudar a quem esta história alcançar.

SM- Apesar desta ser uma história muito delicada, eu tenho que perguntar quando se iniciou os abusos e quem foi este abusador?

Vitória- Os abusos começaram aos 3 anos de idade e meu pai foi o abusador.

SM- Sua família é grande e você é a caçula dos irmãos. Você tinha sua mãe e irmãos... ninguém percebeu que você estava sendo abusada sexualmente?

Vitória- Apesar da casa estar sempre cheia de outros parentes além de minha mãe e irmãos, o meu pai chegava do trabalho (ele era militar) e eu o ajudava a tirar o coturno. A casa estava cheia e tinha-se a impressão que todos tomavam conta de todos... Na verdade, eu estava muito solta em casa.

SM- Conte-nos o que você lembra.

Vitória- Lembro ainda muito pequena que meu pai me machucou com seus dedos e acabei sangrando. Quando minha mãe foi me dar banho e perguntou o que havia acontecido, eu disse que tinha me machucado no triciclo que havia ganhado. Foi a forma que encontrei para não falar a verdade que meu pai abusava de mim. Não foi fácil, ainda criança, ver outras pessoas em minha casa sendo cuidadas por minha mãe e eu me sentia um pouco deixada de lado. Meu pai trazia doces para gente e eu acho que aquela era uma forma de me calar ou algo parecido. Eu não entendia, mas eu era muito fiel à ele.

SM- Quando você conseguiu se livrar dos abusos sexuais do seu pai?

Vitória- No dia em que ele morreu. E, meus irmãos passaram a associar a morte de meu pai ao que eu tinha dito há um tempo atrás para o meu irmão... Num determinado tempo da minha vida eu tentei falar sobre os abusos de forma leve e disse a um dos meus irmãos que o nosso pai estava passando a mão em mim. Foi quando o meu irmão chamou a minha mãe e, reclamando, disse que ela deveria cuidar de mim, pois o pai estava fazendo alguma coisa comigo.

Eu tenho muitos problemas de saúde e quando eu passava mal, os meus familiares diziam que aquilo acontecia por eu estar sendo castigada por ter falado do nosso pai.  

SM- Você tinha quantos anos quando ele morreu?

Vitória- Eu tinha 23 anos.

SM- Qual o pior momento destes abusos?

Vitória- Eu tinha 18 anos quando os estupros iniciaram e comecei a namorar quando eu tinha aproximadamente 22 anos. Nesta época, meu pai começou a fazer cobranças com horários rígidos e passou a me abusar diariamente.... Era devastador isto! E para me defender, eu comecei a colocar muitas trancas em minha porta do quarto... mas a minha mãe via e não se movia no sentido de me proteger, me defender...

SM- Você tem vários e graves problemas de saúde, certo? Você associa estas doenças ao que passou?

Vitória- Sim, eu associo e especialmente por me manter sempre calada. Na minha infância eu tinha muitas febres e os médicos diagnosticaram uma virose que nunca se curava. Minha mãe vivia comigo no médico, neste aspecto ela cuidava de mim e meu pai era sempre ausente nestas horas. Aos 13 anos de idade eu tive uma febre reumática terrível... Eu era muito calada.
Lembro dos problemas que começaram com bolhas nas mãos e feridas nos ouvidos... Levada ao médico, eles diagnosticaram que eu tinha hidrocefalia, estava perdendo a visão... fui internada... foram e são muitas enfermidades até o dia de hoje.

SM- Você estudou na área médica, sua escolha tinha como foco as suas enfermidades?

Vitória- Sim, especialmente lúpus.

SM- Seu pai monitorava de perto seu namoro e quando ele faleceu, como você começou a lidar com o namoro?

Cátia M. B. Caroni da Silva
Vitória- Eu comecei a namorar um vizinho que era religioso e militar também. Namoramos por três meses e ele tentou um namoro mais avançado e eu não quis, foi quando ele convidou alguns amigos e estes me arrastaram para dentro de casa e me violentaram por algum tempo... Fui ameaçada e o pior, ameaçaram a minha família... Muito complicado toda esta história! Sempre me calei por medo... Sempre guardei as coisas dentro de mim e as enfermidades só aumentaram. Tive muitos danos físicos, prejuízos emocionais e marcas que parecem que nunca vão sair de dentro de mim.

SM- É verdade que você foi violentada por uma prima?

Vitória- Sim. Acredito que, se eu não tivesse forças, até hoje ela estaria me molestando. Suas violências sexuais eram impactantes... Trago em meu corpo, marcas que comprovam e mostram como a minha história é complexa!

SM- Você me disse que, ler as histórias e entrevistas postadas neste blog tem ajudado você a entender algumas coisas, como estas histórias ajudam você?

Vitória- Eu começo a entender algumas coisas e, diante destas histórias, eu pude falar sobre o que me aconteceu... Sabe, eu criei coragem para falar e isto também pode ajudar outras pessoas. Eu lia as histórias e via que todas as histórias descritas no blog continham partes de minha própria história!

SM- O que você deixa para os pais como alerta para com as crianças?

Vitória- Pais, fiquem atentos aos seus filhos, acreditem mais no que eles falam. A confiança no filho é tudo! Quando o seu filho for falar algo, dê ouvidos e observe, leve ele a sério... Perceba os comportamentos dele: se ele está muito irritado, muito calado ou até calmo demais. Eu ainda peço que fique atento nos excessos de banhos e lavar as mãos... pois até hoje eu chego lavar as mãos várias vezes ao dia, banhos em excessos... Quando eu sofria os abusos, eu queimava as roupas, chegava em casa em horários que deveria ser questionada... cuidado com as crianças quando estão ansiosas demais... Cuidado com os olhares distantes e os choros incontidos.

SM- Assim como eu perguntei no início, vou te perguntar agora, como se sente neste momento?

Vitória - Isso é estranho, mas sabendo que vai ajudar é muito gratificante! (Surgiu um brilho nos olhos de nossa Vitória!)

SM- Nos fale sobre a questão de perdão.

Vitória- Eu já perdoei o meu pai. No dia em que ele morreu, eu fui levada ao hospital, quase que forçada pelos meus irmãos, mas eu disse a ele que iria orar por ele e pedi perdão por não ter sido uma filha para ele. A sensação que eu tive foi que nós dois perdemos a oportunidade de sermos pai e filha... Isto fica um vazio estranho.

SM- Você é de linha cristã, como você associa a figura de pai ao Deus Pai apresentado na Bíblia?

Vitória- Durante muito tempo eu não conseguia chamar Deus pelo título de Pai e ainda hoje eu o chamo de Paizinho. Confesso que estou num processo, mas acreditando sempre no amor de Deus e no seu cuidado, apesar de tudo o que passei.

----------------
Esta foi a história de Vitória. Uma história descrita de forma bem reduzida, pois a sua vida foi afetada tão drasticamente que hoje em dia ela tem graves e profundos problemas de saúde. lúpus e câncer são algumas das enfermidades enfrentadas por ela.

Nosso blog teve acesso ao que comprova a história de Vitória. Talvez, fosse muito difícil de acreditarmos em tudo isto se não tivéssemos como comprovar alguns dos relatos aqui apresentados.
Mas o que temos a dizer para Vitória?

Obrigada por sua entrevista, obrigada por sobreviver, obrigada por prosseguir. Este mês de maio no Blog Sexualidade e Movimento foi dedicado às pessoas que se importam assim como nós!

Se você ainda quer contar sobre sua história e o mês de maio acabou, não fique triste, nosso Blog continuará, entre uma postagem e outra, contando estas histórias e criando espaços para quem passou por situações de abusos. Nosso intuito, é continuar dando vez e voz aos que se calaram em meio às dores dos abusos sexuais!

Abaixo, tem um vídeo que reflete a sua condição... Uma joia rara que reflete algo muito precioso...


AGUARDEM!

Difícil é descrever as sensações que tenho quando ouço ou leio estas histórias, pois eu mesma passei por esta situação e em breve estarei contando a minha história! Aguardem!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá! Deixe seu comentário, sugestão, dicas e outros.