
A coisa se complica quando ocorre o encontro de indivíduos que, de
forma direta ou indireta, foram afetados através dos abusos sexuais sofridos durante
a tenra idade, por exemplo. Juntos, estes indivíduos podem causar para si, e
para outros, muita dor e destruição. Assim, aprender a lidar com as questões
sexuais, especialmente no seio familiar, é muito importante para sociedade como
um todo. Mas, infelizmente, quando o assunto sexualidade é falado, é feito de forma
negativa ou mascarada.
Como exemplo do que foi mencionada acima, pode ser citado o caso
de Aileen Carol Pittman, ela que ficou conhecida como Aileen Wuornos. Temas como
prostituição, homossexualidade e outros assuntos relacionados à sexualidade
fazem parte desta história vivida nos Estados Unidos.
A história de Aileen ficou mais conhecida quando o filme Monster foi lançado em 2004 nos Estados
Unidos, (No Brasil o título foi: Desejo Assassino). Ela foi considerada a
primeira assassina em série dos EUA. Mas isto é considerado um erro, pois
outros casos anteriores ao dela já eram conhecidos. Talvez, Aileen tenha sido
considerada a primeira assassina em série pelo fato de ter se transformado em
filme e amplamente divulgado por canais como o ID – INVESTIGAÇÃO DISCOVERY (tv
fechada).
Ainda na infância, Aileen e seu irmão foram abandonados, por sua
mãe, na casa de seus avós maternos. Segundo as muitas biografias amplamente
divulgadas na mídia em geral, o pai de Aileen era um psicopata e sua mãe era
viciada em drogas. Aileen ainda sofreu estupro por parte de seu irmão Keith e veio a engravidar deste. Em sua
história, consta ainda, que ela teve que abandonar o filho para adoção ainda no
hospital. Aileen fugiu de casa muito cedo por sofrer sérios castigos do seu avô
que era alcóolatra.
Depois de estar afastada de casa já há algum tempo e vivendo da
prostituição, Aileen voltou para casa para, mediante o falecimento de seus
parentes, herdar certa quantia. Não demorou muito para que ela gastasse tudo em
pouco tempo. Sem dinheiro e já vivendo fora de casa desde os catorze anos ela
se envolveu em vários delitos.
Algum tempo depois, Aileen conheceu e se envolveu com aquela que
viria a ser sua companheira Tyra Moore. Aileen continuou a se prostituir (Nos
EUA a prostituição é considerada crime) e cometer outros crimes para sustentar
a si e a sua parceira.
Segundo o documentário apresentado pelo ID – Investigação
Discovery, na série intitulada DEMENTES,
antes mesmo de se envolver com Tyra Moore, ela conheceu e se envolveu com Selby
Wall, mas este romance não teve êxito. Como também não teve êxito a tentativa
de abandonar a vida de prostituição.
Lange observa que, a primeira garota (Selby) pela qual Aileen se
interessou e se envolveu num relacionamento homossexual tinha sido enviada para
casa de seus tios para se “curar” da sua orientação sexual.
“Não querendo
morrer com alguns trocados no bolso, ela vai até um bar onde conhece a jovem
Selby Wall, com quem compartilhará um romance cheio de esperança e destruição.
Aileen é prostituta, trabalha na estrada e não tem onde morar. Selby está
temporariamente na casa dos tios, enviada pelos pais para curar sua
homossexualidade. Aileen rejeitava mulheres, mas se apaixona por Selby e aposta
tudo nesse amor. Elas marcam um encontro, mas algo dá errado.” (Lange, 2008,
p.9).
Pouco antes do encontro com Selby, Aileen matou um cliente que a
torturara momentos antes delas se encontrarem. Depois de esperar Aileen a noite
toda, Selby partiu acreditando que seu amor havia desistido dela. A partir de
então, Aileen se envolveu em uma série de assassinatos em que culminou na morte
de pelo menos seis homens. No período em que cometeu estes assassinatos ela
estava ao lado daquela que seria sua paixão e que Aileen faria qualquer coisa
para manter-se no relacionamento, era Tyra Moore, mas este relacionamento durou
apenas quatro anos.
Aileen cometeu muitos crimes e teve uma vida muito fora dos padrões
considerados pela sociedade a qual estava inserida. Conforme os relatos da
série em que sua história foi retratada, ela sofreu perseguições e abusos
durante toda sua infância e adolescência.
Lange (2008) observa a questão do que a moral exige dos indivíduos
de uma determinada sociedade e como os sujeitos se veem dentro deste espectro. Em sua observação ela conclui que,
“Existe uma
problematização no campo da moral que parece ser a responsável pelos desvios,
pelas brechas: o conflito entre a razão e o instinto. A moral exige que sejamos
sujeitos racionais conscientes das normas. No entanto, devem existir condições
para que isso se realize, tais como equilíbrio emocional.” (Lange, 2008, p.23)
Este relato nos leva a pensar na orientação de Goleman (2001, p.
270, 272) quando diz que a competência emocional desempenha um papel mais forte
e importante na vida de uma criança. Apontando sobre alguns casos relacionados a
abusos sexuais na infância, ele descreve que, “não há um perfil único da
criança particularmente vulnerável ao abuso sexual, mas a maioria se sente
desprotegida, incapaz de resistir sozinha, e isolada pelo que lhe aconteceu”.
Nesta afirmação acima citada, Goleman (2001, 272,273), aponta para
resultados comuns vivenciados por grande parte dos que sofreram abuso sexual
durante a infância. Ele fala da possibilidade de se criar uma rede de proteção
para a criança. Uma rede para que ela não dependa apenas da mãe para procurar
ajuda quando se sentir alvo de um abusador. Esta criança que necessita de
atenção, proteção e confiança para pedir socorro precisa também se sentir segura
em sua busca por ajuda. Goleman, indica que as crianças devam receber também
treinamento onde elas possam aprender a se defenderem dos abusadores. Ele
orienta que devemos incluir aptidões emocionais e sociais para que estas
crianças se tornem mais capazes de buscar ajuda estando segura que encontrará
um acolhimento.
Mas o que fazer com as vítimas que não encontraram orientação e,
muito menos, proteção nem mesmo em seu próprio lar? Como falar de ajuda às
crianças na prevenção de abusos sexuais quando seus abusadores são as pessoas
que deveriam estar protegendo-as?
Aileen, não teve onde se agarrar, nem família, nem escola, nem
mesmo a comunidade em que vivia, fez qualquer coisa que a pudesse salvar da
vida que vivia. A questão é que Aileen Carol Pittman foi presa em 9 de janeiro
de 1991 e executada com uma injeção letal em 9 de outubro de 2002. Ela tinha
tanta certeza de sua “letalidade” que em seu julgamento afirmou: “Eu matei aqueles homens, os roubei tão fria
quanto gelo. E eu faria isso de novo, com certeza! Não há nenhuma chance de me
manterem viva ou qualquer outra coisa, porque eu mataria novamente. Eu odeio o
sistema me rastreando... Estou tão cansada de ouvir coisas como: "ela é
louca”! ... Já fui avaliada tantas vezes, eu sou competente, sensata, e eu
estou tentando dizer à verdade. Eu sou aquela que odeia a vida humana e mataria
de novo”.
REFLETINDO:
Vemos que os relacionamentos humanos não são tão simples e
principalmente quando os indivíduos são expostos desde cedo ao descaso, a
negligência e principalmente aos abusos sexuais.
É preciso pensar no quanto se deve levar à sério a questão da
sexualidade no seio familiar. Precisamos criar programas que ensinem as
famílias a lidarem e protegerem nossas crianças e adolescentes de situações de
abuso sob os vários aspectos.
Este breve relado da história de Aileen Carol Pittman nos indica
que, crescer numa família desestruturada e, sofrer abusos sexuais podem causar
danos não apenas para a vítima e seus familiares, mas que consequências
desastrosas podem se alastrar e afetar outros indivíduos da sociedade como um
todo.
Pensando ainda na situação de Selby Wall podemos verificar também como
a rejeição de alguém apenas por sua orientação sexual ser diferente pode
deixa-la numa condição de vulnerabilidade e à possibilidade deste encontrar
outros indivíduos tão sofridos e rejeitados quanto ela.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LANGE,
F., Monstro. 2008. Disponível em
<http://www.bocc.ubi.pt/pag/lange-fernanda-monstro.pdf>
acesso em 03.02.2016
GOLEMAN, Daniel, Ph.D.
Inteligência Emocional: a teoria revolucionária que define o que é ser
inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
Filme: Aileen: the life and death of a serial killer. Direção:
Nick Broonmfield e Joan Churchill. DEJ Productions, 2003. Disponível em DVD (89
min).
Você pode conhecer
mais sobre a história de Aileen, mas eu aconselharia a gastar tempo buscando
refletir em como criar uma rede de proteção para nossas crianças. Pense no que
pode ser feito e se quiser, deixe seu comentário.
<http://blogfamigerados.blogspot.com.br/2012/01/aileen-wuornos-prostituta-assassina.html>
Lendo esse texto fica evidente como questões relacionadas a sexualidade como abusos causam tantos danos. Danos que na maioria das vezes são irreversíveis como no caso explicitado. É algo que tanto a sociedade deveria tratar com maior preocupação, pois os danos são terríveis. Conheço casos de pessoas que foram abusadas sexualmente e tiveram suas vidas totalmente destruídas tanto físicas como psicologicamente. Pessoas com traumas terríveis.
ResponderExcluirEstou amando o blog minha amiga, parabéns pela iniciativa. Espero que seja apenas o inicio para muitos outros trabalhos desenvolvido por você, que é extremamente dedicada e capacitada no que faz. grande beijo e parabéns.
Grata pelo seu carinho e comentário! Especialmente por ser alguém tão importante para mim! beijos e bençãos! volte mais vezes!
ResponderExcluirAmiga, você sabe que a reciproca é mais do que verdadeira! Com certeza voltarei. Sucesso! ;)
ExcluirÉ claro e evidente que muito coisa precisa mudar. Precisamos além de simplesmente prestar atenção nas atitudes de uma criança, como tbm saber o que fazer quando algo foge do nosso controle. Belo texto. Atinou a vontade de conhecer a historia completa de Aileen. Abraços querida.
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