Ela é mãe de duas mocinhas. Uma mãe dedicadíssima, uma serva que busca estar no centro da vontade de Deus. Apesar das dificuldades encontradas em função dos abusos sofridos na infância, ela se mostra uma pessoa que sabe o que Deus tem para ela.

Vejam a história de vida desta mulher e amiga que apelidamos de Rainha. Lembrem-se que, cada apelido, tem a ver com algo da pessoa. Os apelidos são escolhidos por nós que fazemos o Blog e, se aprovado, ele é disponibilizado na entrevista!
Durante a leitura desta entrevista vocês encontrarão partes do texto com destaques em colorido. Fique atentos que, no final da entrevista, faremos algumas considerações de acordo o que está escrito e as cores. A intenção não é julgar as pessoas desta história e sim aproveitar as personagens para realizar algumas reflexões como: Entender em quais momentos comumente ocorre o ASI, como pode afetar as pessoas que passaram pelo ASI e aprender a criar obstáculos que impeçam o pedófilo agir.
Antes, entenda:
ASI - Abuso Sexual Infantil (engloba o adolescente também)
SASI - Sobrevivente de Abuso Sexo Infantil
Vamos a entrevista...
SM – Seja muito bem
vinda ao nosso blog. Agradeço imensamente sua ajuda, pois tem muita gente
sofrendo e achando que é culpada pelo abuso que sofreu! O que te motivou a
falar sobre este assunto?
Rainha - O que me motivou foi o desejo de ajudar as
pessoas que passaram por isso.
SM – Por ser um
assunto delicado, gostaria que você descrevesse para nós sua própria história.
Fique à vontade e lembre-se que, a intenção não é te levar ao sofrimento e sim
descrever o que você dá conta de relatar.
Rainha - Quando
eu era criança, talvez entre 5 e 6 anos, era muito alegre e comunicativa. Minha
casa era grande, daquelas antigas com quintal ao redor, mas o portão ainda não
era o definitivo. Então, era uma espécie de porteira de fazenda daquelas
improvisadas. Eu gostava de correr para lá e me empoleirava na porteira enquanto olhava... Eu falava com todos que
passavam ali.
Certo dia, minha mãe, pelo fato de estar com muita gente em
casa, não foi me procurar e, justamente neste dia, passou um homem que parecia
um mendigo. Eu o cumprimentei como de costume e o saudei com um sorridente: Oi!
Aquele homem parou, olhou para mim e conversou comigo. Eu lembro que me fez
algumas perguntas que não as lembro mais. No entanto, o que nunca esqueci foi
que ele me beijou as bochechas e me acariciou, tanto os seios informes, quanto
a genitália, mas eu me lembro bem que não gostei... Sozinha, eu não tinha como
parar aquilo e foi quando, de repente, ele me levantou, me pôs do lado de fora
do portão e começou a caminhar de mãos dadas comigo. E eu não conseguia reagir mesmo
sendo algo tão desagradável.
Não demorou muito e uns rapazes que deveriam me conhecer, estavam jogando bola e perceberam a situação.
Largaram a bola vieram correndo e gritando em minha direção. Só posso entender
que foi a mão de Deus, pois eles estavam muito longe. Aqueles jovens me tomaram das
mãos daquele homem estranho, chamaram minha mãe e acabara surrando aquele
homem. Naquela época, minha mãe brigou muito comigo e posso dizer que o que
aconteceu não ficou claro para mim, hoje eu entendo que cada um dá o que tem.
Depois disso eu cresci mais e minha mãe sempre me deixava
com vizinhos brincando de casinha. Uma
certa vez, os filhos adolescentes da vizinha vieram e sugeriram que fosse o pai
e eu a mãe. Eu era uma criança inocente, pois era novinha e acabei aceitando.
Quando eu percebi, já estava numa barraca com o adolescente mais velho. Ele
estava se preparando para o que eu não queria. Foi quando ele veio para cima
querendo colocar o seu pênis em mim... eu o empurrei e falei que ia gritar. Ele
me soltou, mas nunca mais consegui ter tranquilidade na casa de ninguém.
Bem, eu fui criada acreditando que não podia usar shorts,
saias mais curtas ou calças apertadas, pois os homens iam me atacar. Em meu
interior, eu tinha a sensação de muita culpa.
Por volta dos 14 anos, um parente distante, que era casado
com minha prima, nos visitou. Um dia, ele me cercou na cozinha e queria me
mostrar o seu pênis e passou a me fazer muitas perguntas. Eu paralisei, mas
disse que não queria. Fugi e depois contei a minha mãe. Nisto, eu descobri que ela
também havia sido assediada, mas não quis levar o ocorrido adiante por ser
alguém da família. Então, combinamos que uma iria proteger a outra.
O tempo passou um pouco e, um dia, minha mãe me mandou à
casa dele pegar algo. Ele estava sozinho e, enquanto ele foi procurar o que
minha mãe havia pedido, ele me deu umas revistas pornôs e me deixou vendo. Na
verdade, eu nem olhei para as tais revistas, pois estava paralisada por medo. Graças
a Deus, mesmo com todo o meu medo e falta de iniciativa não foi adiante, mas as
marcas e lembranças ainda estão aqui comigo. Elas estão registradas em minha
mente e coração.
SM – Como se sentia
enquanto respondia a estas perguntas e especialmente quando relatava a sua
história?
Rainha – Me senti
numa volta ao passado. Graças a Deus isso passou e eu não tenho raiva desse
primo, mas nunca mais os procurei... já os encontrei e falo com eles, mas quando
chamaram as minhas filhas para dormirem lá em sua casa, eu acenei
positivamente, mas não as deixei irem. Contei a elas o ocorrido e pronto! Foi o
suficiente para que elas desistissem de ir. Mas tenho consciência que, se o ato
tivesse sido concretizado, a minha condição seria outra e eu não estaria
relatando esta história com certa tranquilidade.
SM – O que você diria
para as pessoas que acabaram de ler sua entrevista e, especialmente aqueles que
são SASI e seus familiares que também sofrem?
Rainha - Não
podemos deixar nossas crianças serem criadas por babás eletrônicas (TV,
celular, tablet, etc.) Na minha época não havia isso e posso dizer que, talvez,
tenha havido um pouco de negligência de minha mãe e, também, a falta de um pai
mais atuante, pois tudo relacionado a educação era da responsabilidade dela. Mas hoje
em dia, é muita informação e pouco comprometimento.
Pais e mães, sentem com seus filhos e conversem com eles de
acordo com o entendimento, mas não terceirizem o que é seu dever. “O mundo jaz
no maligno” e os agressores de nossas crianças também estão on-line e o pior é
que vejo pais despreocupados com isso.
Olhem nos olhos de seus filhos, observe comportamento e
mantenha a porta do dialogo aberta. Muitas vezes fazemos tudo isso e ainda
assim somos pegos de surpresa. Nessas horas, só podemos abraçar, acolher,
chorar junto, orar junto e se puder fazer algo a respeito, então, agir, mas
crendo que, por mais difícil que seja a situação, o Senhor Deus não nos abandona e nunca abandonará. Se hoje estou aqui casada com 2 filhas e escrevendo tudo
isso e porque Ele me pôs de pé! Me deu um novo caminho para trilhar. Uma nova
perspectiva de vida!
SM – Que a sua vida
seja cheia de paz e muitas vitórias, dia após dia!
Rainha - Amém,
espero poder ajudar a muitos.
Algumas considerações breves que se desdobrarão em próximas postagens!
Auto culpa: Esta é uma característica muito comum ao SASI. Infelizmente, alguns pais, por não darem conta de ser confrontado com sua própria responsabilidade, prefere culpar a criança a ter que encarar que, também colaborou quando negligenciou um cuidado mais efetivo. Mais adiante, em outra postagem, estaremos falando um pouco sobre a questão da auto culpa.
Medo ou vergonha: A maioria das pessoas tem medo ou vergonha de algo e isto, muitas vezes, é usado para nos paralisar. Aqui no caso, o medo era de levar a vergonha do ocorrido à família e não serem compreendidas. Falaremos sobre isto em outra postagem, pois muito me lembrou a história de jovem que eu já atendi. Ele tinha muito medo e vergonha de perder o que tinha... depois eu conto mais.
Material pornográfico: Este é um método muito comum utilizados por pedófilos, apresentar materiais pornográficos. A intenção é levar a criança ou adolescente a terem contato com estas imagens que marcam a mente deles e depois levá-los a pensar que é algo normal. Isto me lembra outra história que contarei em outra postagem.
Fantasias: Os abusos sofridos durante a fase infantil e até adolescência, marcam as pessoas de forma assustadora. Estas marcas são indeléveis! Ter que re-significa-las leva tempo e muita dor, mas isto não quer dizer que seja o fim, mas o começo de um processo que vai trazer alívio na jornada terapêutica. Sobre isto, falaremos mais a frente.
Cuidado: Todos devem estar inserido no contexto da educação e cuidado de uma criança. A criança é incapaz de prover para si o que necessita: alimento, segurança, etc., assim, cabe, a cada um de nós, ser o cuidador de forma direta ou indireta de cada criança que nos rodeia.
Espero que esta história da vida real e as considerações aqui realizadas de forma abreviada possa servir de material para as discussões durante o mês de maio. Que possam também, proporcionar reflexões para tomadas de decisões em vários campos em que a criança está inserida!
Homenagem do Blog Sexualidade e Movimento para você RAINHA: Amiga linda e preciosa! Que este louvor seja uma realidade dentro de você! Te admiro muito! Fica nossa gratidão e saiba que você é um jardim fechado, regado e cuidado pelo Espírito de Deus! Ele que é um manancial para o seu interior que corre águas vivas! Águas que restaurou o seu ser interior para o louvor dEle!
Rainha na verdade es uma vencedora,ñ é facil encarar acedio ou abuso da parte de um familiar, e partilhar sua história ajudará com certeza muitos que estão ou já estiveram na situação em que estivestes!
ResponderExcluirQue cont.a ser essa pessoa boa q mesmo depois de tudo q viveu ñ deixou de ser uma pessoa boa,Deus. Abençoe.